sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ode Aos Gatos - Artur da Távola

Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mais inquietantes, talvez por isso. Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece. O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência.

O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis. Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu. Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado? Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor? Quem sabe São Francisco de Assis não está por trás do Mago Merlin, soprando-me o artigo?

Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive à custa dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele depende, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso. “Falso” porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.

O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige. Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano, mas se comporta como um lorde inglês.

Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago.

A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.

O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode, ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe “ler” pensa que “ele” não está ali. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.

O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluídos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é medium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado.

O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas. O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção.

Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato! Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.

O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo. Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones. Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências.

O gato é uma chance de interiorização e sabedoria, posta pelo mistério à disposição do homem.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Preconceito

O interessante em escrever é o tempo que gastamos para deixar uma idéia amadurecer.
É sempre bom a pesquisa.
Manter a mente aberta é estar em estudo contínuo, conscientemente ou não.
Vamos ao assunto. Preconceito.
Quero afirmar que sou a favor em primeiro lugar. Mas antes de tacarem as pedras, convido a mais uma análise.
Preconceito é qualquer conceito prévio, uma idéia antecipada. O que não é ruim, muito menos errado.
Logo, qualquer idéia que temos antes de vivenciarmos ou conhecermos algo ou alguém, é um pré-conceito. Seja esta uma opinião boa ou ruim.
Sejamos racionais, no mínimo razoáveis. Não precisamos dar murro em ponta de faca.
No decorrer da vida aprendemos com falhas, acertos, observações. Com isso criamos nossos escudos, nossa experiência, que não é nada mais nada menos que uma série de pré conclusões baseadas em comparações com nossa vivência até o momento.
Diversas vezes não precisamos passar por determinada situação ou conhecer um certo tipo de pessoa para sabermos que não vamos gostar ou que podemos nos machucar.
Nosso inconsciente trabalha fazendo as comparações necessárias para continuarmos a caminhar. Agimos então, muito mais com o inconsciente do que o contrário. E cada experiência na vida vai gerar uma mensagem gravada no inconsciente.
Considero a mente como um todo, um instrumento da razão. Nem sempre é somente o consciente que implica em racionalidade, realidade. A sua realidade e sua razão também estão no inconsciente.
Vejamos exemplos de preconceitos racionais.
Quando ouço falar sobre a vida de alguém no campo, não espero conhecer tal pessoa para imaginá-la falando uma lingua totalmente "diferente" da minha, nem deixo de imagina-la com simplicidade e costumes completamente opostos aos da cidade. Pré-conclusão, pré-conceito.
E quando conhecemos um paulista por bate-papo, atribuímos logo as pronúncias típicas a ele.
Sem ser hipócrita, sei, quando vejo um mendigo, através de todos pelos quais já passei, que o odor é desagradável. Parece bobo, mas é uma idéia que tenho antes mesmo de passar por ele, logo, é um preconceito sim.
Preconceitos são muitos, e são necessários. Vemos isso como algo pejorativo, mas estamos errados. Ter uma idéia, embora não fixa, é como saber as chances de algo ser uma coisa ou outra. É se basear em probabilidade.
O que não concordo é com o preconceito irracional.
Não vejo motivos para julgar um negro ou um homossexual.
Sei que matematicamente a maior parte da classe dos menos favorecidos é negra, mas se fosse branca daria no mesmo. Temos mesmo é que trabalhar para mudar a base e não julgar pelos sintomas.
Não concordo também com o radicalismo.
Você pode e deve ter quantos preconceitos racionais forem necessários, mas não deve ficar preso a eles.
Tenho preconceitos mais pessoais.
Não deixaria meu filho brincar com o filho do Fernandinho Beira-Mar.
Quando vejo uma pessoa obesa, atribuo a bastante comida, pois sei que casos de doença são bem menores. A doença na maioria dos casos está na cabeça, na falta de controle.
Quando vejo uma fé cega por qualquer coisa principalmente pelo cristianismo, deprecio a inteligência e o poder de observação e de lógica do indivíduo.
Quando vejo qualquer homem se preocupando excessivamente com o tamanho do seu braço e reparando ainda, nas definições dos seus amigos, concluo inevitávelmente que ele difícilmente me acrescentará algo.
Nem sempre estou certo. É apenas uma pré observação. Uma analise do que pode ser. Não me prendo a nada disso. Seria cegueira total.
O preconceito é o que a mente usa para te indicar uma probabilidade baseada nas imagens gravadas anteriormente no inconsciente.
Seus preconceitos vão falar muito da sua história, suas experiências, vão definir muito você.
Se não concluirmos nada com a vida, não estamos aprendendo nada com ela. Não estamos vivendo. Tenham mais preconceitos.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Santos

Não consigo não enxergar esse Deus de forma engraçada. Um ser tão contraditório. Uma hora ele é tudo, outras somente o que for bom. É bondoso, mas vingativo. Ele quer ser amado e também temido. Ele me dá o mundo, mas não posso pertencer a ele. Me dá a razão, mas não posso contrariar a fé. Acho que Deus cria as coisas só para me negar.
Quando uso da razão, é quando me divirto mais.
Como assim? "Bem aventurados aqueles que acreditam sem ver".
Acredito na fé sim, mas não na fé cega.
Dito isto, vamos analisar alguns conceitos.
O que é o vício? O dicionário diz "mau hábito; cotume pernicioso, condenável; apego extremo a tóxicos, bebidas". Mas além disso, o vício é algo fora de nosso controle, algo acima de nossa vontade. Uma necessidade falsa que não vencemos sem muita força de vontade.
E o que é santo? Do hebraico (gadosh), significa separado. Então santificar (gadash) significa separar. Originalmente esses termos não eram usados associados a Deus. Apenas tinham esse pequeno significado.
Agora cheguei onde queria. Quero entender a macumba.
Se pessoas vivas, materiais caem no conceito quando perdem o controle de si, como aceitar que um ser espiritual seja escravo de uma falsa necessidade? Eu porém, estou acima de qualquer "santo" da macumba. rs
Sou matéria e dependo de coisas materiais, mas não me domino por nada além do que preciso para sobreviver. Essa é a necessidade real. Não julgo errado os objetos do vício, posto que pode ser qualquer coisa (perfume, drogas, consumo, alguém), julgo errado a dependência deste.
Podem falar que é capricho do santo, ou qualquer outra coisa. Mas como um ser do outro lado da vida é tão apegado a este nosso lado? Para mim é fraqueza.
Agora, achar estes santos poderosos não tem cabimento. Cá entre nós, eu invisível chego até no presidente, e logicamente descubro segredos de qualquer um.
Quando alguém é vivo e pede dinheiro para se drogar ele é julgado. Mas um ser espiritual que depende de coisas materiais pode ser viciado no que ele quizer. Estranho né?
Se é para ser devoto, filho, escravo, aprendiz ou o que for, que seja de alguém acima de mim.
E porquê são chamados de santo? São separados de que? E para que? No cristianismo sei que santo é a pessoa separada do mundo. Que nega os pecados, os vícios. Acho que isso não acontece com os tais santos na macumba. Eles são bem mundanos.
Creio que ajudar esses espíritos a continuarem presos ao mundo dos vivos, atrasa a evolução deles. Mas essa é minha crença.
Também acho estranho no catolicismo, canonizarem depois de mortos. Para separarmos nossa vida para qualquer coisa primeiramente temos que estar vivos. E santificar-se, é algo pessoal. Ninguém, nem mesmo a igreja te torna santo.
Mas esse é assunto para algum outro post.
Lembro que é apenas a minha opinião

sábado, 14 de março de 2009

Honrar pai e mãe?

Honrar pai e mãe? Desde quando honrar significa adotar mesmas idéias e atitudes? Pais, ao longo do tempo, criam seus filhos como sendo donos deles. Considero essa, uma forma arcaica, e com a mentalidade um pouco mais aberta convido vocês leitores a analisar esse conceito.

1° - Já nascemos com uma personalidade:

Não que venhamos prontos, mas temos algo congênito. E os pais têm sim o dever de educar e capacitar à reflexão de forma madura sobre o certo e errado. O que não devem, é ponderar pelos filhos, nem mesmo querer mudar sua essência.

2° - O certo e o errado não são uma realidade universal:

Educadores em geral têm a incrível mania de passar seus próprios conceitos adiante, seja a respeito de política, religião, educação, costumes, até coisas mais banais como “rosa é cor de menina”.
3° - Confunde-se respeito com medo:
Certas crianças são “adestradas” e não “educadas”. São como animais temendo a seus pais ou suas mães sem saberem o que é respeito de fato.


Há um grande problema nesses três itens. Pais que castigam seus filhos sem os submeter a uma conversa clara, explicativa, estão criando mais problemas. Esses “aprendizes” não aprenderão nada. Não deixarão de fazer coisa alguma por discernimento e sim por medo. Isso encadeará diversas reações como revolta, rebeldia, desvio de caráter e dificuldade de discernimento.
Caros leitores, não faço incentivo à rebeldia, nem mesmo a desobediência. De forma alguma. Não quero mudar algo que já foi, mas algo que virá. Próximas gerações de pais, recomendo que sejam exemplo e não ditadores. Vamos atrair pessoas e nossos próprios filhos pelo que somos e não pelos nossos títulos.
Minha mãe que me perdoe, mas mãe, pai, papa, rabino, tudo não passa de título, apenas isso. Tive uma mãe exemplar, a qual sempre respeitei como humana. Nunca temi (a não ser decepcioná-la), nunca precisei fugir e nunca fui desrespeitado. O respeito sempre foi recíproco e não precisei ouvir nada como “Me obedeça, pois sou sua mãe”, este seria o fim.
Deixo claro também que quando se trata do seu chefe tudo muda. Este paga o seu salário, seu ganha-pão. Você não precisa gostar dele, mas depende do dinheiro que ele te paga, e da boa convivência no trabalho para evitar estresse desnecessário.
A seguinte pergunta fica para vocês seja para vida ou para seus filhos:
Querem ser temidos ou respeitados?

quinta-feira, 12 de março de 2009

Contestando Deus

Deus existe? O que ele é? É ele ou ela? Porque dizem que é pai, e nunca mãe? Se me perguntarem o que é Deus, responderei sem pestanejar, "é apenas um nome". Sim! Apenas um nome, por trás de um conceito errôneo.
Então porque esse conceito está tão disseminado nas mentes do mundo inteiro? Simples. Porque o humano tem a alma servil.
Darão o nome que quiser, Alá, Jeová, Satã (sim, satã pode ser um deus para algumas pessoas), mas o propósito será sempre o mesmo. Ter alguém para responsabilizar, para por a culpa de nossas faltas, alegando que é castigo. Ou ter alguém superior para idolatrar e nos servir de exemplo.
O que não entra na minha cabeça é existir pessoas que precisam da religião para dizer, "isto é certo", "isto é errado". O que aconteceu com a consciência? Ela serve somente de peso caso sejamos pecadores? E quem criou o pecado? Ainda tem gente
que acredita em Adão e Eva?
Voltemos a analisar Deus. O Cristianismo diz que este é o Todo-Poderoso. Que tudo ele é capaz. Porque Deus levaria seis dias para criar a Terra, e ainda descansaria no sétimo? Deus precisa de descanso? Quando será que ele tira férias? Jesus, o homem, ou mito, não sei, ensina que Deus é amor. Pare e pense. Deus não é SÓ amor. Não devemos criar uma personalidade para tal Ser, assim limitaríamos ele, o pondo mais ainda com nossas condições. Deus não é bom nem mal, não é velho nem novo, não é externo nem interno, não é homem nem mulher, vivo nem morto. Deus sou eu, é o papa e também é Saddam Hussein.
Ele é amor sim, mas também é guerra, doença, tristeza, pobreza, etc. Deus não só permite que coisas ruins aconteçam, ele está de camarote, ele é o desagrado tanto quanto o agrado. Em tudo Deus se manifesta, tudo é ele próprio.
Com um conhecimento razoável em mecânica quântica, definiríamos assim: "Deus não tem definição" Parece ironia, mas considerando nossa limitação humana, sabemos - com o mínimo de bom senso - que definindo Deus estamos ao mesmo tempo o limitando.
Diríamos que Deus é tudo e a pergunta viria, "tudo o que?", "tudo que conheço?", isso seria um limite, "tudo que existe?", ainda assim seria um limite.
A melhor forma de entender, é esquecer tudo que escutamos, tudo que nos foi "sugerido" desde nossa infância.
Quando você pensar no nome DEUS e não vier nada a sua cabeça, aí você estará começando a entender!
Diria até que não existe "Deus", somente coisas DIVINAS.